Como parte do Agosto Lilás, mês de mobilização de combate à violência contra a mulher, o Ministério Público do Maranhão promoveu, na manhã desta sexta-feira, 19, o Ciclo de Diálogos sobre a Lei Maria da Penha com o tema “Masculinidade e Grupos Reflexivos de Homens”. O evento foi realizado no Centro Cultural do MPMA, em São Luís, e reuniu membros, servidores e representantes da sociedade civil.
A atividade foi organizada pela Escola Superior em parceria com o Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência de Gênero (CAO Mulher) e contou com a apresentação da quadrilha junina “Flor de Mandacaru”, do município de Açailândia. O grupo apresentou o espetáculo “Marias” em alusão aos direitos das mulheres.
Na abertura do evento, a diretora da ESMP, Karla Adriana Farias Vieira, afirmou que a pesquisa sobre violência doméstica e familiar contra a mulher, realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, em 2021, apontou que, para 71% das entrevistadas, o Brasil é um país muito machista. Os dados apontam que 68% das brasileiras conhecem uma ou mais mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar, enquanto 27% declaram já terem sofrido algum tipo de agressão por homem.
Ela destacou que a Lei Maria da Penha possibilita a criação de espaços de diálogo, informação e reabilitação sobre a violência contra a mulher com a presença do público masculino. “O que se vislumbra é o rompimento de ciclos de violência, a contribuição para obtenção de equidade de gênero e o enfoque sobre a violência contra a mulher como violação de direitos humanos”, esclareceu Karla Adriana Vieira.
Em seguida, o diretor da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), Carlos Henrique Vieira, parabenizou os integrantes da Flor de Mandacaru pela apresentação, que abordou a luta das mulheres para garantir a sua dignidade. “A arte é uma ferramenta muito importante para se falar de direitos, especialmente, os direitos humanos”.
O juiz Pedro Guimarães Junior, da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Maranhão (CEM-Mulher), destacou a parceria institucional com o MP, em Açailândia, em atividades de defesa do público feminino. “Agradecemos o convite e a parceria institucional com o Ministério Público”.
MASCULINIDADE E GRUPOS REFLEXIVOS
Em sua apresentação, a promotora de justiça do Rio Grande do Norte e coordenadora do Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de Violência, Érica Canuto, explicou que o tema é intimamente ligado à violência doméstica e enfatizou que existe uma construção social da masculinidade tóxica e o homem é socializado para responder as questões da vida muitas vezes com violência e há uma cobrança social distorcida.
“Falar sobre isso é dizer que existe uma política pública, inserida na Lei Maria da Penha, que é a criação de grupos de reflexão para homens. Neles, os participantes têm oportunidade de refletir sobre a própria masculinidade, seu papel, paternidade, proteção da mulher e violência para que possa formar um convencimento e descontruir essa crença negativa”, afirmou Érica Canuto.
Além disso, a promotora de justiça destacou que os homens não nascem violentos. “Há homens que foram socializados assim, ou seja, trata-se de um processo de aprendizagem. Da mesma maneira que um agressor constrói essa crença na violência, essa atitude, acreditamos que é possível descontruir. É uma oportunidade de desconstruir essa prática violenta”.
A coordenadora do CAO Mulher do MPMA, Sandra Fagundes Garcia, agradeceu a presença da palestrante e enfatizou que a experiência de mais de dez anos de criação de grupos reflexivos no Rio Grande do Norte inspirou e embasou o trabalho desenvolvido no Maranhão. “Em Açailândia, já tivemos 10 turmas de grupos reflexivos e a reincidência da violência é zero. A capacitação, nos grupos reflexivos, é estratégica na defesa da mulher”.
Redação: Johelton Gomes (CCOM-MPMA)
Fotos: André Soares (CCOM-MPMA)