A Ouvidoria Geral do Ministério Público – MA tem a grata satisfação de ler o artigo inédito desta Juíza de direito, publicado no Jornal ‘O Estado do Maranhão’ de dia 23 de junho, do corrente ano, acessível abaixo:
O Movimento Passe Livre – MPL não me representa!
(*) Sônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro.
Confesso que, como muitos inocentes úteis – cansada da corrupção, da politicagem, dos péssimos serviços públicos, do excesso de tributos, da PEC 37, dos 39 ministérios etc. – fui simpática ao movimento que tomou conta do Brasil.
Por outro lado, triste com a apatia da juventude brasileira, até então para mim tida como alienada e hedonista, fiquei feliz com o seu protagonismo, até porque a história demonstra que os saltos qualitativos de uma sociedade acontecem pela insatisfação dos mais jovens com o status quo.
Porém, depois da postura de algumas lideranças jovens de tentar impor bandeiras que a história mostrou serem equivocadas e da postura ditatorial, assemelhada aos fanáticos do chavismo e do terrorismo islâmico, hostilizando os profissionais da imprensa, mudei de opinião.
Portanto, nadando contra a corrente do “oba-oba”, quero registrar que o Movimento Passe Livre não me representa, a considerar que
– não aceito pagar mais impostos para financiar o “Bolsa Passagem”;
– não quero mais Estado, quero menos;
– não quero “capitalismo de Estado”, pois acredito na iniciativa privada;
– não quero expropriação dos transportes coletivos, quero uma tarifa justa, que contemple os justos interesses de lucro do empresariado, um transporte de qualidade aos que dele se utilizam e um subsídio que não impeça o investimento em outros setores;
– não quero que os destinos do país sejam decididos por uma minoria, sem representação política, através de “conselhos populares” (leia-se “sovietes”);
– não quero acabar com a classe política, quero que mudem as práticas pouco republicanas;
– não quero ver a imprensa hostilizada e com mordaça, quero ela livre, apesar de saber que alguns se vendem na bacia das almas;
– não quero ver as autoridades policiais serem agredidas, pois a atividade que desempenham é essencial na sociedade civilizada;
– não quero fechar os parlamentos, só quero que os parlamentares trabalhem em prol da sociedade;
– não quero derrubar os chefes do executivo, eleitos de forma regular pela maioria, quero que gastem de forma mais racional os tributos arrecadados e não permitam o desvio do dinheiro público;
– não quero ser usada por nenhum grupo ou partido, que visa atingir os adversários, só quero ter o direito de ser contra;
– não quero o pensamento único, quero ser plural;
– não quero voltar ao tempo do “bom selvagem”, da guerra de todos contra todos, da anarquia, quero civilização, ordem e respeito;
– não quero, todos os dias, ter de esperar a marcha dos insatisfeitos se dispersar para fazer valer meu direito de ir e vir, quero que estes possam se reunir, mas que não atrapalhem a rotina da cidade;
– não quero dar abrigo às hordas de vândalos em saques aos estabelecimentos comerciais, quero manifestações civilizadas;
– não quero, enfim, esse “novo mundo possível”, impregnado de ideologias furadas, autoritárias e pouco democráticas.
Sou partidária da democracia, não acredito em soluções que visem igualar a todos, sem levar em conta as individualidades; sou partidária do liberalismo, da livre iniciativa, não da ditadura do proletariado ou de quem quer que seja; sou partidária de um Estado que dê ao cidadão o anzol e não o peixe; sou partidária, apesar de tudo, do regime democrático que, como Winston Churchill, penso ser a “pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas”.
Em suma, quero democracia, pois, só com ela, eu e todos os insatisfeitos podemos nos expressar livremente, reclamar e mudar, se preciso for, os representantes políticos que escolhemos, sem tutela e autoritarismo de um grupo, que se coloca como dono da verdade e se vale de chantagem para impor seu ponto de vista.
(*) Juíza de Direito, sonia.amaral@globo.com“>sonia.amaral@globo.com