
O uso de expressões preconceituosas como forma de discriminação e racismo foi o tema abordado na palestra “O pretuguês como racismo linguístico”, ministrada na tarde desta segunda-feira, 20, na Unidade de Educação Básica (UEB) Ministro Mário Andreazza, no bairro da Liberdade, pela pedagoga Lindoracy Almeida Santos.
A atividade, organizada pela 1ª Promotoria de Justiça Distrital da Cidadania – polo Centro e pela Escola Superior do MPMA, reuniu alunos do 8º e 9º anos do ensino fundamental e foi realizada em alusão ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. A data relembra a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, situado em Alagoas, à época capitania de Pernambuco. O líder quilombola foi assassinado em 1695.

Ao dar as boas-vindas aos participantes, a promotora de justiça auxiliar da Escola Superior do Ministério Público, Elyjeane Alves de Carvalho, ressaltou que a língua é um campo de muitas possibilidades. “Palavras e expressões são questionadas e caem em desuso por terem sido criadas com o intuito de ferir ou de excluir camadas sociais e diferentes povos, como acontece no racismo linguístico”.
Em seguida, o promotor de justiça Marco Aurélio Ramos Fonseca declarou a satisfação em participar do evento na data que homenageia a luta da população negra e saudou os alunos presentes. “É com alegria que estamos aqui presentes para inaugurar um novo nível de relacionamento do nosso Ministério Público, pois é uma instituição da sociedade, com cada um de vocês, com a escola e com o quilombo urbano da Liberdade”.
RACISMO LINGUÍSTICO
Mestre e doutoranda em Ciências da Educação, professora da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), ativista social e membro do Coletivo de Entidades Negras, Lindoracy Santos destacou que as diferentes formas de expressão na língua portuguesa refletem a diversidade histórica e educacional das pessoas e não podem ser usadas como meio de opressão. “Essa linguagem é importante e precisa ser respeitada e valorizada”.

Cunhado pela antropóloga Lélia Gonzalez para se referir à influência dos idiomas africanos no português falado no Brasil, o termo “pretuguês” reflete, ainda, uma forma peculiar de expressão e identidade cultural brasileira.
Na avaliação da palestrante, apesar de termos um país eminentemente miscigenado, o preconceito é presente de diversas perspectivas. “Nós vamos conceituar o “pretuguês” como um desvio da linguagem padrão. No entanto, não é errado falar dessa forma, pois carrega os aspectos culturais, regionais e econômicos. A partir do momento que a linguagem é usada para exclusão e marginalização, o preconceito passa a existir. A linguagem não pode ser instrumento de opressão”, finalizou.
Lindoracy Santos enfatizou que o negro colaborou e continua colaborando com o Brasil e apesar de vivermos em um país multicultural, o uso de expressões pejorativas é muito comum. Ao alertar os estudantes sobre o papel deles no enfrentamento do racismo, a professora os instigou a estudar e abolir o uso das expressões racistas. “Vocês estão estudando para mudar isso, mudar o racismo estrutural e aprimorar o conhecimento”.
A palestrante apresentou expressões racistas que foram naturalizadas ao longo do tempo e precisam ser repensadas e evitadas, a exemplo de “negro de alma branca”, “a coisa tá preta”, “ovelha negra”, “não sou tuas negas”, “samba do crioulo doido”, “magia negra” e “mercado negro”.
O evento teve apresentações culturais do grupo de dança afro Abanjá (Centro de Cultura Negra do Maranhão) e do tambor de crioula da UEB Mário Andreazza.


Redação e fotos: (CCOM-MPMA)